Opinion: Jorge Santos

– Englisch version below-

FACTO OU FICÇÃO, EM QUEM NÃO CONFIAR EM RELAÇÃO A CRIPTOATIVOS? – Durante os últimos dois ou três anos que somos bombardeados com notícias, artigos e posts nas mais diversas redes sociais a falar sobre blockchain, criptomoedas, NFT e vários outros termos que apenas muito recentemente foram adicionados ao nosso léxico. Devido à novidade, extrema volatilidade e aos “factoides” deste setor, o apetite mediático que o envolve tem crescido a ritmos quase incomparáveis. 

Todo este interesse mediático em muito tem contribuído para o aumento exponencial de valor destes ativos, mas em pouco tem contribuído para a educação da população em geral, em relação a este novo setor. 

O caso mais visível desta tendência é o squid game token rug pull, uma criptomoeda baseada na popular série da Netflix, que conseguiu capitalizar no uso indevido de propriedade intelectual e na falta de espírito crítico dos media para transferir cerca de 2 milhões de euros dos bolsos dos investidores para os bolsos de quem lançou esta criptomoeda em menos de duas semanas.  

Lançada no final de outubro de 2021, logo nos primeiros dias conseguiu atingir uma elevada capitalização de mercado através de alguns “truques” para artificialmente subir o seu valor de mercado. A subida associada ao facto de estar aparentemente associada com a popular série da Netflix captou a atenção de grandes estações de mediacomo CNBC, BBC, CNN, entre outras, o que levou a uma subsequente entrada de novos investidores e a uma nova subida de valor. 

É interessante rever as diferenças na escrita de artigos sobre esta moeda na última semana de outubro, com títulos como “Squid Game cryptocurrency rockets in first few days of trading”, e na primeira semana de novembro, com títulos como “Squid Game crypto token collapses in apparent scam”. Curiosamente poucos artigos mencionam o impacto que o mediatismo sem espírito crítico que foi trazido para este projeto teve no sucesso desta fraude.  

Uma análise simples do whitepaper desta criptomoeda (whitepaper é o documento onde estão descritas as principais características e ambição futura do projeto) teria encontrado inúmeros erros ortográficos, incoerências nos planos futuros do projeto e variadas promessas pouco realistas, o que essa análise não teria encontrado seriam provas de alguma parceria ou direitos de utilização do nome e conteúdo associado à série “Squid Games”, e também não encontraria nenhuma identificação nem dados das pessoas por detrás deste projeto.  

Este tipo de fraude não é de todo inovadora, não sendo mais do que do que simples burla, semelhante a casos do “mundo real”, como o da Elizabeth Holmes e da Theranos.  

Muitas vozes falam dos impactos da publicidade fraudulenta em redes sociais e dos influencers menos escrupulososque impingem criptomoedas fraudulentas à sua base de seguidores a troco de chorudos pagamentos, no entanto o dano que estes atores causam não se compara ao causado por esta negligência, que não só confere legitimidade a projetos fraudulentos como também impede uma discussão ponderada sobre os inúmeros projetos inovadores no setor.  

Com o contínuo interesse neste setor, seria importante ponderar casos como este, quais os padrões jornalísticos a seguir e evitar continuar a conceder, negligentemente, legitimidade a projetos fraudulentos. 

 

– English version – 

FACT OR FICTION, WHO NOT TO TRUST WHEN IT COMES TO CRYPTOASSETS? – For the last two or three years we have been bombarded with news, articles and posts on the most diverse social networks talking about blockchain, cryptocurrencies, NFT and several other terms that have only very recently been added to our lexicon. Due to the novelty, extreme volatility and “factoids” of this sector, the media appetite surrounding it has grown at almost unparalleled rates. 

All this media interest has greatly contributed to the exponential increase in the value of these assets, but has done little to educate the general population about this new sector. 

The most visible case of this trend is the squid game token rug pull, a cryptocurrency based on the popular Netflix series, which managed to capitalize on the misuse of intellectual property and the media’s lack of critical thinking to transfer around €2 million from the pockets of investors to the pockets of those who launched this cryptocurrency in less than two weeks.  

Launched at the end of October 2021, it managed to achieve a high market capitalization in the first few days through some “tricks” to artificially raise its market value. The rise associated with the fact that it was apparently associated with the popular Netflix series captured the attention of major media stations such as CNBC, BBC, CNN, among others, which led to a subsequent influx of new investors and a further rise in value. 

 

It is interesting to review the differences in article writing about this coin in the last week of October, with titles such as “Squid Game cryptocurrency rockets in first few days of trading”, and in the first week of November, with titles such as “Squid Game crypto token collapses in apparent scam”. Interestingly few articles mention the impact that the uncritical media hype that was brought to this project had on the success of this scam.  

A simple analysis of the whitepaper of this cryptocurrency (whitepaper is the document where the main characteristics and future ambition of the project are described) would have found numerous spelling errors, inconsistencies in the future plans of the project and various unrealistic promises, what this analysis would not have found would be evidence of any partnership or rights to use the name and content associated with the “Squid Games” series, and would also not find any identification or data of the people behind this project.  

This type of fraud is not at all innovative, being nothing more than simple scamming, similar to “real world” cases such as Elizabeth Holmes and Theranos.  

Many voices talk about the impacts of fraudulent social media advertising and less scrupulous influencers who push fraudulent cryptocurrencies to their follower base in exchange for fat payouts, however the damage these actors cause does not compare to that caused by this negligence, which not only gives legitimacy to fraudulent projects but also prevents a thoughtful discussion about the numerous innovative projects in the sector.  

 

With the continued interest in this sector, it would be important to consider cases like this, what journalistic standards to follow and avoid continuing to negligently grant legitimacy to fraudulent projects.

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